Z05. Pai, posso dar um soco nele –  José Cláudio da Silva – PDF
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A INVASÃO DOS BÁRBAROS
Tudo começou numa quarta-feira quente de janeiro. Era mês de colocar as leituras em dia. Esquecer o mundo lá
fora e se embrenhar durante trinta dias no mundo imaginário dos livros!
Brammmm!
A porta da sala bateu violentamente contra a parede. Abriram com uma bomba poderosa: o pontapé. Os bárbaros
chegaram.
- Pai, quero jogar videogame!
- Tio, quero Nescau!
- Tio, quero guaraná!
- Pai, quero bolacha!
Todas falavam ao mesmo tempo. Exigindo seus direitos. Eram seis anjinhos: Daniel e André, filhos. Maurício,
Vinícius, Lucas, Mayra, a única menina bárbara, sobrinhos.
- Mães irresponsáveis. Largaram essas crianças neste lugar minúsculo e foram passear no shopping. Como vou ler
com tanto barulho!?
Enquanto isso, as crianças começaram uma guerra de almofadas no quarto do casal.
- Parem com esse barulho. Venham aqui.
Empurrando, chutando, esmurrando, xingando uns aos outros, chegaram na porta da saleta. Todas tentavam passar,
ao mesmo tempo, pela porta.
- Silêncio!!! Sentem-se na mesa. Não em cima da mesa! Vocês vão quebrar o vidro e sua mãe me mata. Pelo amor
de Deus, sentem-se nas cadeiras! Tudo bem. Agora silêncio! Só eu falo! O que vocês querem fazer além de destruir
o apartamento e me deixar louco?
Gritando, falavam ao mesmo tempo:
- Quero ir ao Play Center, ao zoológico, Cidade da Criança, ao Parque da Mônica...
- Nem pensar! Eu não sou louco para ficar andando com seis crianças, cheias de energia, em parques enormes. Que
tal um programa diferente?
- Qual?
- Acampar!!!
- Acampar???
- É. Vocês nunca acamparam? Mas não vamos a um camping cheio de confortos. Vamos acampar numa mata,
sozinhos.
- Igual aos escoteiros, tio?
- Mais ou menos, Lucas.
- Vai ser legal, tio?
- Garanto que vocês vão gostar. Vamos fazer muitas coisas. Será divertido.
- Para onde vamos, tio? - perguntou Mayra.
- Você não vai - gritou Daniel.
- Acampamento é só para homens - completou Vinícius. Mayra mostrou a língua para os dois e disse:
- Bobões. Eu também vou, tio?
- Claro!
- Alguém vai ter de fazer a comida e lavar a louça - resmungou Lucas.
- Quero que vocês peguem as mochilas da escola e tirem os materiais de dentro e...
- Que mochilas, tio? - perguntou Lucas - a minha não presta para mais nada.
- Nem a minha!
- Nem a minha!
- Posso imaginar o estado em que elas se encontram. Vou sair para comprar mochilas, mantimentos e alguns
utensílios para acampar. Por favor, não destruam o apartamento enquanto eu estiver fora.
Ao voltar do supermercado, uma gritaria infernal o recebeu. Parecia que o mundo estava se acabando num terrível
cataclismo. Era como se um bando de dentistas com brocas e enfermeiras com injeções tivessem invadido o
apartamento e perseguisse todas as crianças, que fugiam desesperadas, apavoradas, aos berros derrubando tudo que
encontravam pelo caminho. Um verdadeiro campo de batalha final.
- Crianças, parem com esse inferno e venham aqui!
Todas correram para a cozinha se atropelando e derrubando coisas pelo caminho.
-Silêncio! Já comprei tudo o que precisaremos para acampar. Ficaremos uma semana na mata, sem shopping e
MacDonalds. Vamos arrumar as coisas dentro das mochilas que eu comprei para vocês. Amanhã bem cedo,
partiremos para nossa aventura.
- Minha mãe não vai me deixar ir, tio.
-Vai sim, Maurício. Suas mães vão adorar ficar uma semana longe de vocês nas férias. Agora cada um pegue uma
mochila e coloque as coisas que eu comprei. Tem um conjunto para cada um. As mochilas são iguais, mas sempre
têm dois querendo a mesma.
- Parem com essa briga!

O ACAMPAMENTO

Cinco horas da manhã. Todos foram acordados com o saxofone de brinquedo do André.
-Atenção, vocês têm dez minutos para ficarem prontos. O café já está na mesa. Comam bastante. Este é o último
café civilizado. Tirem os pijamas e coloquem as roupas que estão perto de vocês. Vamos, rápidos!
- Tio, o Maurício pegou a minha meia!
- Você pegou o meu tênis!
- Tio, o Daniel está mostrando a língua para mim!
- Tio, o Lucas não quer dar minha camiseta!
- Parem com as brigas. O último vai sair sem tomar café!
- Tio, estou pronta!
- Muito bem, Mayra. Você foi a primeira. Pode tomar café, depois escove os dentes. Vamos lá, seus molengas!
Vão deixar a Mayra, uma menina, ser mais rápida do que vocês?
Quando todos estavam tomando café, surgiu na porta da cozinha um vulto que disse:
- Querido, você vai mesmo cometer esta loucura? Vai levar estas pestin... crianças para acampar. Acho que você
não está no seu juízo perfeito.
- Louco! Eu!
- Ir com essas crianças para o meio do mato sozinho. Eu sei que elas são selvagens, mas não precisa exagerar.
Assim é demais. Você está muito longe de ser um Indiana Jones.
-Não se preocupe, amor. Na semana passada eu aumentei o valor do meu seguro de vida. Você não ficará
desamparada. Nada demais acontecerá. Nós já vivemos numa selva que é muito mais perigosa.
- Vou voltar para a cama. Boa sorte para todos. Vocês vão precisar.
- Aproveite. Será uma semana longe delas. Vamos, crianças. Cada uma pegue suas coisas.
Desceram pelo elevador. Na garagem, entraram no carro e saíram. Em cinco minutos já estavam na maior
algazarra.
- Quietos! Como posso dirigir com tanto barulho?
Depois de uma hora, chegaram num estacionamento perto da estação de trem. Todos desceram e embarcaram no
trem. Depois de muita bagunça no vagão.
- Vamos descer na próxima estação. Coloquem suas mochilas nas costas.
O trem parou e todos desceram.
-Aqui começa a maior aventura de suas vidas. Dentro dessa mata moram o perigo, o desconhecido, a surpresa e
feras selvagens. Quem estiver com medo fale agora ou cale-se para sempre.
Os meninos olharam para Mayra. Como ela não disse nada eles também ficaram calados.
- Muito bem. Todos prontos?
- Sim - responderam.
- Em frente, marchem!
- Tio, para que serve o apito?- perguntou Lucas.
- É para apitar, seu burro! - respondeu Daniel.
- Não é nada disso, seu idiota! - disse Vinícius defendendo o irmão Lucas.
-Calma, crianças. Parem com esses elogios. O apito é para ser usado só em caso de alguém se perder. Basta parar
de andar e começar a apitar que os outros encontrarão. Vamos andar por aqui.
- Primeiro os homens - disse Maurício.
- Vão em frente seus bestões. O leão comerá os primeiros - disse Mayra.
- Aqui tem leão, pai?
- Não André. Mayra está brincando. Andando, andando. Meia hora depois...
- Tio, estou cansado. Podemos parar um pouco?
- Ainda não, Maurício. Agüente mais um pouco.
- Vejam, um rio - gritou Lucas.
- Nunca viu rio, seu bobo? - disse Mayra.
- Tio!
- Ham!
- Estou com sede.
- Beba um pouco de água do seu cantil.
- Mas eu estou com sede de guaraná.
- Aqui não tem guaraná, Vinícius. Beba água.
Daniel tropeçou num ramo e caiu.
- Sua besta quadrada. Não olha por onde anda? – disse Maurício.
- Pai.
- Que é?
- Posso dar um soco nele?
- Não. Limpe sua roupa. Precisamos encontrar um lugar plano para armar as nossas barracas. Olhem, ali é um bom
lugar.
- Mas tio, é perto do rio.
- Eu sei Mayra.
- E se ele subir e nos molhar?
- Rio não é mar, sua besta! - disse Vinícius.
- Não se preocupe, Mayra. É bom ficarmos perto do rio para podermos tomar banho, nadar, pescar...
- Viu, sua bestona! Não sei para que trazer menina? – perguntou André
- Ué, para lavar a louça - respondeu Lucas.
- Vocês são uns grandes bobões!
- Só quero ver quando anoitecer e ela começar a chorar com medo dos bichos e do escuro disse Maurício.
- Eu não vou chorar!
- Vai sim - disse André.
-Meninos, deixem a Mayra em paz. Aqui todos são iguais. Todos farão as mesmas tarefas.
Agora parem de discutir e vamos arrumar as nossas coisas. Mayra e Lucas juntem galhos secos para fazermos o
fogo. Daniel e Maurício me ajudem a montar as barracas. André e Vinícius tragam água.
- Tio, estou morrendo de fome!
- Todos estamos, Lucas.
Meia hora depois...
- Peguem os pratos e os talheres. Façam fila que eu vou colocar a comida. Parem de empurrar. Tem comida para
todos.
- Não tem catchup?
- Não é cachorro quente, seu bobão!
- Não, Maurício, não tem. Daniel, não fale assim.
- Nem maionese?
- Nem maionese, André.
- Tem Coca-Cola?
- Não. Suco de maracujá.
- Eu não gosto.
- Então beba água. Agora chega de conversa e comam.
Famintos, limparam os pratos em segundos. Pareciam animais, comendo e falando ao mesmo tempo. Esqueceram
toda as regras de boa conduta à mesa. Não havia necessidade de ameaças com chineladas para comerem tudo.
- Todos acabaram? Cada um lave o seu prato e o talher. Depois escovem os dentes.
- Mas isso é serviço de mulher - disse Daniel.
- Aqui cada um vai lavar o que sujar e um pouco mais.
Mayra mostrou a língua para todos.
- Agora que estamos alimentados e descansados, vamos partir para a nossa primeira aventura.
- Tio, o Maurício está me chutando.
- Maurício...
- Ele me chutou primeiro.
- Prontos? Eu vou na frente abrindo caminho. Depois Mayra, Lucas, Maurício, André, Vinícius e Daniel.
- Por que sou o último?
- Porque é o mais bobão! - respondeu Mayra.
Daniel puxou o cabelo da Mayra.